sexta-feira, 20 de abril de 2012

O ALMOÇO DO VELHINHO


                      O ALMOÇO DO  VELHINHO

                                                       Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas

                               Meio dia. Um sol que Deus dava. O interior do ônibus era uma sauna. E para completar, lotado. Não cabia ali mais ninguém. O velhinho sentado no banco amarelo, destinado a esses passageiros. Ao seu lado, uma senhora um pouco além do peso.

                        O ancião levava em seu colo algo embrulhado em um pano branco. Lá pelas tantas, não se conteve. Abriu aquele pacote e apareceu uma vasilha, tipo marmita. Ajeitou o pano e abriu o vasilhame. Dentro estava bem acomodada uma coxinha de frango raquítica, tipo frango caipira, mergulhada numa farofa suculenta, com torresmo, rodelas de linguiça e para completar um ovo estrelado.

                        O cidadão aparentando uns oitenta anos, não teve dúvidas, tirou do bolso da camisa uma colher e começou a comer aquela cheirosa refeição. Os que estavam ali perto se entreolhavam e arregalados, principalmente a sua companheira de assento, fitavam para tudo aquilo e não acreditavam no que viam.

                        O indivíduo não se incomodava com aqueles olhares e parece que nem ouvia os comentários que circulavam pelo coletivo: - aquele senhor está almoçando dentro do ônibus. Outro dizia: - ele tem razão, já é hora. Uma mulher exclamou: - que absurdo! É pela hora da morte. Esse mundo está perdido. Quem diria. Uma moça caiu na risada e cochichou algo com a companheira ao seu lado. Um menino deixou o seu celular cair, de susto, ao se virar para ver melhor aquela cena inusitada.

                        Todos no busão já sabiam que havia alguém fazendo um banquete ali naquele local impróprio.

                        O senhor terminou a sua refeição. Limpou a colher numa ponta do pano e a retornou para o seu bolso da camisa. Fechou a vasilha, tipo marmita e a enrolou novamente naquele pano e a deixou em seu colo. Para os assistentes um alívio. Ele acabara de comer e parecia satisfeito e, com o balanço de ônibus, um pouco sonolento.

                        As coisas, então, voltavam ao normal. Mas para surpresa, principalmente de sua vizinha de banco, ele tirou do bolso da calça um palito embrulhado em um lenço. Levou a mão à boca e, pasmem, tirou nada menos que sua dentadura e, tranquilamente, iniciou uma limpeza bucal, palitando, com todo o cuidado e esmero, um por um, aqueles dentes postiços. A vizinha ao ver aquilo fez vômito. E os passageiros próximos gritaram em um só momento: Oh! 

                       

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