CELULAR
EM LOCAL INUSITADO
Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas
Num dia de semana, bem calorento, dentro de
um ônibus
lotado, de repente um celular começa a tocar, num tom
muito peculiar.
Ele, literalmente, “gritava”: - ó pobema,
ó
pobema, ó pobema, ai uruuuuuu, segura trem feio. E
ninguém o atendia.
O som foi aumentando, aumentando: - ó pobema, ó pobema, ó pobema, ai uruuuuuu, segura trem feio.
- que barulho é esse,
gritava um.
- atenda esse negócio aí,
pelo amooor de Deus, gente!
Exclamava outra.
- de quem é esse troço tão
estridente?
- o som vem daquele lado
ali!
Os passageiros todos se voltavam para a
direção de onde
saia aquele estranho som, cada vez mais alto: Ó POBEMA,
Ó POBEMA, Ó POBEMA, AI URUUUUU,
SEGURA TREM
TREM FEIO.
A horrível gritaria vinha da direção do tórax
de uma
mulher que, desconcertada, virava o rosto para o outro lado.
A menina sentada no banco ao lado, disse: -
olha, o grito
vem de dentro daquela dona ali, apontando para a mulher
assustada, junto à janela, próxima à roleta.
Alguns passageiros, impacientes gritavam: -
moça atenda o celular!
Um velhinho, intolerante, exclamou: - hoje
as coisas estão pela hora da morte. É o fim do mundo. Como pode haver essa
gritaria toda numa condução?!
Outro gritou, do fundo do busão: - Ei dona, desliga esse negócio
aí, não vê que está incomodando todo mundo?!
Ela, então, morta de vergonha, sem jeito, e
diante da insistência e olhares de todos, tomou coragem é tirou o estridente
celular de dentro do sutiã, para alívio de todos.
Os passageiros do ônibus, vendo aquilo,
riam a valer, em meio a inúmeros comentários jocosos:
- isso é lugar para se enfiar um celular?
- esse aparelho estava bem guardando, hem!.
Será por medo de ter o telefone furtado?
A portadora do aparelhinho, tão bem
guardado, deu o sinal e quando descia do ônibus ouviu, lá de dentro um grito de
um passageiro: - ó pobema, e dava
boas gargalhadas, acompanhado pelos demais ocupantes do busão, que exclamavam em coro: -
ó pobema, ó pobema...
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