sexta-feira, 6 de abril de 2012

CELULAR EM LOCAL INUSITADO


                                    CELULAR EM LOCAL INUSITADO

                                    Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas

    Num dia de semana, bem calorento, dentro de um ônibus
lotado, de repente um celular começa a tocar, num tom
muito peculiar. Ele, literalmente, “gritava”: - ó pobema, ó
pobema, ó pobema, ai uruuuuuu, segura trem feio. E
ninguém o atendia.
    O som foi aumentando, aumentando: - ó pobema, ó pobema, ó pobema, ai uruuuuuu, segura trem feio.
- que barulho é esse, gritava um.
- atenda esse negócio aí, pelo amooor de Deus, gente!
Exclamava outra.
- de quem é esse troço tão estridente?
- o som vem daquele lado ali!
    Os passageiros todos se voltavam para a direção de onde
saia aquele estranho som, cada vez mais alto: Ó POBEMA,
Ó POBEMA, Ó POBEMA, AI URUUUUU, SEGURA TREM
TREM FEIO.
    A horrível gritaria vinha da direção do tórax de uma
mulher que, desconcertada, virava o rosto para o outro lado.
    A menina sentada no banco ao lado, disse: - olha, o grito
vem de dentro daquela dona ali, apontando para a mulher
assustada, junto à janela, próxima à roleta.
    Alguns passageiros, impacientes gritavam: - moça atenda o celular!
    Um velhinho, intolerante, exclamou: - hoje as coisas estão pela hora da morte. É o fim do mundo. Como pode haver essa gritaria toda numa condução?!
    Outro gritou, do fundo do busão: - Ei dona, desliga esse negócio aí, não vê que está incomodando todo mundo?!
    Ela, então, morta de vergonha, sem jeito, e diante da insistência e olhares de todos, tomou coragem é tirou o estridente celular de dentro do sutiã, para alívio de todos.
    Os passageiros do ônibus, vendo aquilo, riam a valer, em meio a inúmeros comentários jocosos:
    - isso é lugar para se enfiar um celular?
    - esse aparelho estava bem guardando, hem!. Será por medo de ter o telefone furtado?
    A portadora do aparelhinho, tão bem guardado, deu o sinal e quando descia do ônibus ouviu, lá de dentro um grito de um passageiro: - ó pobema, e dava boas gargalhadas, acompanhado pelos demais ocupantes do busão, que exclamavam em coro: - ó pobema, ó pobema...

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