sábado, 5 de maio de 2012

GRITARAM: - ENTALOU !


GRITARAM: - ENTALOU!

                                               Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas


            A senhora um pouco avantajada, principalmente no quadril, entrou no ônibus. Custou a subir os degraus e dentro do coletivo se aproximou da roleta. Pagou a passagem e fez menção de passar. O agente de bordo (no meu tempo: trocador) a dissuadiu. Não precisava atravessar a roleta.

            A mulher ignorou a sugestão e tentou passar pela catraca. Todos dentro do ônibus se voltaram para aquela cena. Ela não se fez de rogada. Parece que não acredita que estava um pouco além do peso. Tentou mais uma vez ultrapassar a borboleta, mas o inevitável aconteceu: engastalhou. Um passageiro, que assistia à cena não se conteve e gritou: - entalou, vejam, a dona entalou. E agora?

            O busão estava lotado. Na próxima parada a porta se abriu e mais gente entrou. O motorista não conseguia fechar a porta, porque uma fila enorme se formou na entrada e as pessoas na parte da frente do coletivo se espremiam, porque aquela senhora, um pouco além de seu peso, estava presa na roleta. Não ia para frente e nem para trás. Cada vez que se mexia, gritava de dor e a roleta nem se movia.

            Um senhor pediu licença à senhora e, com todo o respeito, colocou as duas mãos nas ancas da infeliz e empurrou com toda a sua força. A passageira deu um berro e não adiantou nada. Estava fortemente agarrada à roleta.

            Um brincalhão, que sempre dá o ar da graça nessas horas, exclamou: - o jeito é chamar o Corpo de Bombeiros.

            Outro, na tentativa de ajudar, deu a infeliz ideia para a dona tentar se abaixar. Foi o caos. Ela se abaixou e, como estava acima do peso, as protuberâncias superiores a fizeram se prender mais à malfadada roleta.

            Nessa altura, a maioria dos passageiros pediu para o motorista abrir as portas do ônibus a fim de que todos descessem e o veículo fosse para o Corpo de Bombeiros ou para alguma oficina mais próxima, porque, gritavam alguns: - a solução é serrar a roleta. Não há outro meio.

            Após alguns instantes de sufoco e inúmeras tentativas de desentalar aquela passageira um pouco gordinha e teimosa, porque não faltaram conselhos para que não se aventurasse, tentando romper a roleta, o motorista irritado abriu as portas do coletivo e todos deixaram a condução, ficando somente o motorista, o trocador (agente de bordo) e a coitada da “entalada” que suava por todos os poros, por causa do grande esforço que fizera para se ver livre daquela horrível e constrangedora situação.

            O motorista fechou as portas e se dirigiu para o Corpo de Bombeiros, acatando as sugestões daqueles que presenciaram os incômodos instantes vividos por aquela mulher que, pelo excesso de peso, se viu entalada.






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